Toda a casa tinha (e
continua ter, certamente) o seu quintal. Maiores uns, com espaço até para um
bocadinho de horta, mais pequenos outros, com espaço apenas, e nalguns casos
apertado, para a capoeira, para a coelheira, para a pocilga e para o curral e,
ainda, para a estrumeira. Também havia quintais com poço. Com poço e com
tanque, para lavar a roupa e para regar a horta, caso a houvesse. E quem diz a
horta, diz as flores, em canteiros ou em vasos. Em vasos, quase não havia quem
não tivesse umas florinhas. Em canteiros, era raro. Só alguém como o meu pai,
que nasceu para jardineiro, com certeza. Coisa que, no entanto, e profissionalmente
falando, nunca foi. Onde quer que morássemos (e mudámos de casa várias vezes),
todo o bocadinho que desse para isso era por ele aproveitado para plantar
flores. Mas disso falarei pormenorizadamente num capítulo que dedicarei à
família.
A estrumeira era para onde ia todo o esterco feito pela gado e
para onde se despejavam os penicos ou directamente se faziam as necessidades
fisiológicas, porque casa de banho era coisa que as habitações dos camponeses
não tinham. Da limpeza das camas do gado também os homens (maridos e filhos) é
que geralmente se ocupavam. O esterco era usado, naturalmente, para estrumar a
terra, sendo duas as hipóteses do destino a dar-lhe. Ou usá-lo em sementeira
própria, ou vendê-lo.
O uso em sementeira própria acontecia quando algum proprietário
cedia terra a algumas famílias para nela semearem batatas. E como, salvo erro,
o proprietário não ficava com batatas nenhumas, julgo que a concessão era feita
a troco, precisamente, de uma boa estrumadela – uma estrumadela cujo efeito
perdurasse para a utilização que da mesma terra o dono a seguir fizesse. Não
era isso, porém, coisa muito frequente nem feita em grandes proporções. Se bem
me lembro, só dois ou três pequenos lavradores faziam essa concessão de terras
para a sementeira de batatas. Mas que era um bom meio para algumas famílias
ficarem abastecidas de batatas por algum tempo, isso era. Resta dizer que
estrumar, cavar a terra, semear as batatas e depois arrancá-las era trabalho
para toda a família a um domingo ou em dia feriado, que eram os dias chamados
de descanso. Uma ou duas sachadelas, feitas em tempo oportuno e quando a
disponibilidade o permitisse, para que a erva não prejudicasse o crescimento
das batateiras, isso também ficava ao cuidado da mulher.
Quando o esterco era vendido, era-o à carroçada, normalmente
também a pequenos lavradores ou a rendeiros de terras, para sementeiras
diversas (de favas, por exemplo) ou para hortas.
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