quarta-feira, 12 de março de 2008

Outros afazeres da Mulher casada!


Começo por onde acabei – pelo milho.
O milho, em geral amarelo e obtido conforme acabei de descrever, destinava-se a ser transformado em farinha, e esta em pão, salvo uns punhados que uma vez por outra eram atirados aos galináceos e uma quantidade maior destinada à engorda do porco ao aproximar-se a matança.
Para a transformação do milho em farinha, ocorriam duas situações, o que se devia ao facto de não haver no Pombalinho, apesar de terra de tanto milho, uma única moagem. Já teria havido, certamente, pois que havia na aldeia uma construção antiga, de dois pisos, servindo então de celeiro e de adega, conhecida por “a moagem”. Por outro lado, lembro-me de ouvir dizer que o Joaquim Gonçalves Ferreira, pessoa de quem espero voltar a falar, tivera uma moagem na parte do edifício, grande e também de dois pisos, onde o que eu sempre conheci foi a Casa do Povo.

A moagem então mais próxima, com a sua mó movida por uma azenha implantada na margem direita do rio Alviela, ficava em São Vicente do Paul, à beira da estrada e próxima da igreja e do cemitério, situados do outro lado do rio e da ponte.
Para a moedura do milho, havia então duas situações: alturas em que o moleiro de São Vicente do Paul vinha ao Pombalinho, numa carroça, recolher o milho e trocá-lo por farinha, e outras em que ele não aparecia e tinham as mulheres que levar o milho à moagem, carregando-o à cabeça. Juntavam-se sempre, para isso, duas ou três vizinhas que calcorreavam, por atalhos, normalmente descalças e muitas vezes fazendo-se acompanhar pelos filhos pequenos (foi assim que eu algumas vezes fiz esse percurso), os 5 ou 6 quilómetros que separavam as duas povoações.


A cozedura do pão (pão de milho, a substancial broa a que no Pombalinho ninguém chamava assim) era uma operação semanal. Pelo conhecimento que a experiência dá, cada dona de casa amassava num alguidar de barro a quantidade de farinha necessária para a fornada da semana, à qual misturava uma porção de farinha de centeio e o bocado de massa da amassadura anterior deixado a fermentar para o efeito. Cobria-se então o alguidar com um cobertor para que a massa levedasse mais depressa. Depois, passado o tempo calculado necessário para o efeito e a fim de precisar o momento de deitar as mãos à tigela apropriada e começar a tender, a padeira ia espreitando a massa, disso dependendo também a determinação do momento próprio para se pôr o forno a aquecer.


Sem comentários: