Começo por onde acabei
– pelo milho.
O milho, em geral amarelo e obtido conforme acabei de descrever,
destinava-se a ser transformado em farinha, e esta em pão, salvo uns punhados
que uma vez por outra eram atirados aos galináceos e uma quantidade maior
destinada à engorda do porco ao aproximar-se a matança.
Para a transformação do milho em farinha, ocorriam duas situações,
o que se devia ao facto de não haver no Pombalinho, apesar de terra de tanto
milho, uma única moagem. Já teria havido, certamente, pois que havia na aldeia
uma construção antiga, de dois pisos, servindo então de celeiro e de adega,
conhecida por “a moagem”. Por outro lado, lembro-me de ouvir dizer que o
Joaquim Gonçalves Ferreira, pessoa de quem espero voltar a falar, tivera uma
moagem na parte do edifício, grande e também de dois pisos, onde o que eu
sempre conheci foi a Casa do Povo.
A moagem então mais próxima, com a sua mó movida por uma azenha
implantada na margem direita do rio Alviela, ficava em São Vicente do Paul, à
beira da estrada e próxima da igreja e do cemitério, situados do outro lado do
rio e da ponte.
Para a moedura do milho, havia então duas situações: alturas em
que o moleiro de São Vicente do Paul vinha ao Pombalinho, numa carroça,
recolher o milho e trocá-lo por farinha, e outras em que ele não aparecia e
tinham as mulheres que levar o milho à moagem, carregando-o à cabeça.
Juntavam-se sempre, para isso, duas ou três vizinhas que calcorreavam, por
atalhos, normalmente descalças e muitas vezes fazendo-se acompanhar pelos
filhos pequenos (foi assim que eu algumas vezes fiz esse percurso), os 5 ou 6
quilómetros que separavam as duas povoações.
A cozedura do pão (pão de milho, a substancial broa a que no
Pombalinho ninguém chamava assim) era uma operação semanal. Pelo conhecimento
que a experiência dá, cada dona de casa amassava num alguidar de barro a quantidade
de farinha necessária para a fornada da semana, à qual misturava uma porção de
farinha de centeio e o bocado de massa da amassadura anterior deixado a
fermentar para o efeito. Cobria-se então o alguidar com um cobertor para que a
massa levedasse mais depressa. Depois, passado o tempo calculado necessário
para o efeito e a fim de precisar o momento de deitar as mãos à tigela
apropriada e começar a tender, a padeira ia espreitando a massa, disso
dependendo também a determinação do momento próprio para se pôr o forno a
aquecer.
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