Seguia-se a poda das
vinhas, coisa que requeria aprendizagem, assim como a limpeza e a destronca das
oliveiras. Por isso, a primeira vez que algum novato fazia um desses trabalhos,
fazia-o sob a orientação de um companheiro já experiente. As oliveiras ainda eu
aprendi a limpar, sob a orientação do meu tio Daniel Gandarez; a podar as
videiras, não. Ora, terminada a poda das vinhas, a apanha das vides, que se
juntavam em molhos atados com as próprias vides, era mais uma tarefa das
mulheres casadas e dos filhos pequenos, com a divisão a meio por meio e com o
transporte das vides para casa por conta dos donos das vinhas. E assim se
arranjava alguma matéria prima para fazer a comida ou para aquecer o forno em
que se cozia o pão.
As vides que cabiam aos proprietários ficavam nas vinhas,
amontoadas, para com elas se aquecerem os almoços e se assar o conduto dos
trabalhadores quando era a vinha o local de trabalho. E era-o muitas vezes.
Considerando uma ordem cronológica, direi que os trabalhos nas vinhas
começavam, em Fevereiro ou Março, pela cava (com um homem em cada vão e um mais
possante, e conluiado com o patrão ou com o capataz, a puxar pelos
companheiros), passava pela sulfatagem, às vezes pela enxofra, pela desfolha
(antes da vindima, para os cachos ficarem mais expostos ao sol), pela vindima,
em Setembro, e terminava na poda, assim se completando o ciclo. Relacionado com
a vindima em Setembro e com algo que se esperava ou desejava que desaparecesse,
era até corrente a expressão: levou uma volta como São Miguel deu às uvas. O
dia do Arcanjo São Miguel é em 29 de Setembro.
Exceptuando a poda, a enxofra e a desfolha, as duas últimas feitas
por mulheres, tudo o mais eu fiz, inclusive apanhar as vides, com a minha
mãe.
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